domingo, 16 de junho de 2013

Sequência didática - Texto "O primeiro beijo"



Texto “O primeiro beijo”, de Clarice Lispector

Série: 7º ano
Tempo: Aproximadamente 6 aulas.

 Sequência didática

Conteúdos:

Definição do gênero conto.
Traços característicos do gênero.
Leitura e escuta do texto.
Apresentação de um breve resumo sobre a bibliografia da autora.
Estudo do vocabulário.
Compreensão e Interpretação do texto.
Produção de texto.

Habilidades:

Perceber o aspecto interativo do texto lido e a função social dele.
Reconhecer os elementos organizacionais e estruturais 
caracterizadores do gênero conto.
Ler com ritmo, entonação, respiração, qualidade de voz, elocução e pausa.
Conhecer um pouco da história de vida da escritora Clarice Lispector.
Enriquecer e ampliar o vocabulário.
Formular hipóteses de sentido a partir das informações encontradas no texto.
Analisar a variedade padrão em funcionamento no texto.
Produzir textos escritos de acordo com o gênero proposto.

Estratégias:

Leitura silenciosa.
Leitura oral compartilhada.
Levantamento e análise dos elementos estruturais do texto.
Leitura da bibliografia da autora.
Atividades de vocabulário – Auxílio do dicionário.
Atividades de interpretação e compreensão do texto.
Produção de um mini conto com roteiro.

Avaliação:

Avaliação contínua do empenho e desempenho das atividades propostas.

Recursos: Lousa, cópias das atividades elaboradas pelo professor e cópias do texto.




O primeiro beijo


Clarice Lispector

            Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
            - Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
            - Sim, já beijei antes uma mulher.
            - Quem era ela? Perguntou com dor.
            Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
            O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
            E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, puxa vida! Como deixava a garganta seca.
            E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
            A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
            E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
            Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-se mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
            O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.
            De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
            Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era a boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
            E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para a outra.
            Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.
            Ele a havia beijado.
            Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para a frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
            Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
            Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
            Ele se tornara homem.

(In “ Felicidade Clandestina” – Ed. Rocco – Rio de Janeiro, 1998)


Breve bibliografia da Autora – Clarice Lispector

Nascida Haia Pinkhasovna Lispector, nasceu em 10 de dezembro de 1920, na cidade russa de Tchetchelnick, na Ucrânia, quando seus pais, Pedro Lispector e Marian Lispector deixavam a terra natal com destino às terras brasileiras.
A família se instalou em Recife (PE), onde a futura escritora começou a estudar.
Faleceu em 09 de dezembro de 1977 no Rio de Janeiro(RJ).
Foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira. Quanto ao estado pertencente, Clarice se declarava pernambucana.

Referências bibliográficas:

Currículo do Estado de São Paulo: Linguagens, códigos e suas tecnologias/ Secretaria da Educação. São Paulo: SEE. 2010.

Projeto Araribá: português/obra coletiva. 1.ª ed. – São Paulo: Moderna, 2006.

Cena do filme “ Meu primeiro amor”, lançado em 27/11/1991 (EUA) – Direção: Howard Zieff, Roteiro: Laurice Elehwany.

Claricelispectorcitou.tumblr.com/


Professora Zilda Hipolito Teodoro

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