Texto
“O primeiro beijo”, de Clarice Lispector
Série:
7º ano
Tempo:
Aproximadamente 6 aulas.
Sequência
didática
Conteúdos:
Definição
do gênero conto.
Traços
característicos do gênero.
Leitura
e escuta do texto.
Apresentação
de um breve resumo sobre a bibliografia da autora.
Estudo
do vocabulário.
Compreensão
e Interpretação do texto.
Produção
de texto.
Habilidades:
Perceber
o aspecto interativo do texto lido e a função social dele.
Reconhecer
os elementos organizacionais e estruturais
caracterizadores do gênero conto.
caracterizadores do gênero conto.
Ler
com ritmo, entonação, respiração, qualidade de voz, elocução e pausa.
Conhecer
um pouco da história de vida da escritora Clarice Lispector.
Enriquecer
e ampliar o vocabulário.
Formular
hipóteses de sentido a partir das informações encontradas no texto.
Analisar
a variedade padrão em funcionamento no texto.
Produzir
textos escritos de acordo com o gênero proposto.
Estratégias:
Leitura
silenciosa.
Leitura
oral compartilhada.
Levantamento
e análise dos elementos estruturais do texto.
Leitura
da bibliografia da autora.
Atividades
de vocabulário – Auxílio do dicionário.
Atividades
de interpretação e compreensão do texto.
Produção
de um mini conto com roteiro.
Avaliação:
Avaliação
contínua do empenho e desempenho das atividades propostas.
Recursos: Lousa, cópias das atividades
elaboradas pelo professor e cópias do texto.
O primeiro beijo
Clarice
Lispector
Os
dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos
andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
-
Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me
diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar?
Ele foi simples:
-
Sim, já beijei antes uma mulher.
-
Quem era ela? Perguntou com dor.
Ele
tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
O
ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da
garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe
pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às
vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração
no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
E
mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o
barulho do motor, rir, gritar, pensar, puxa vida! Como deixava a garganta seca.
E
nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de
reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era
morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele
próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
A
brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e
ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente
juntava.
E
se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto?
Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar.
Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
Não
sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-se mais
próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada,
penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
O
instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre
arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O
ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar
ao chafariz de pedra, antes de todos.
De
olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde
jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a
barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso
até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os
e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a
estátua de uma mulher e que era a boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de
que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio
do que a água.
E
soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A
vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para a outra.
Intuitivamente,
confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o
líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.
Ele
a havia beijado.
Sofreu
um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe
o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou
para a frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que
uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão
agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
Estava
de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo
fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova,
era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
Até que, vinda da profundeza de seu
ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e
logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
Ele se tornara homem.
(In “
Felicidade Clandestina” – Ed. Rocco – Rio de Janeiro, 1998)
Breve bibliografia da
Autora – Clarice Lispector
Nascida
Haia Pinkhasovna Lispector, nasceu em 10 de dezembro de 1920, na cidade russa
de Tchetchelnick, na Ucrânia, quando seus pais, Pedro Lispector e Marian
Lispector deixavam a terra natal com destino às terras brasileiras.
A
família se instalou em Recife (PE), onde a futura escritora começou a estudar.
Faleceu
em 09 de dezembro de 1977 no Rio de Janeiro(RJ).
Foi
uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira. Quanto
ao estado pertencente, Clarice se declarava pernambucana.
Referências
bibliográficas:
Currículo
do Estado de São Paulo: Linguagens, códigos e suas tecnologias/ Secretaria da
Educação. São Paulo: SEE. 2010.
Projeto
Araribá: português/obra coletiva. 1.ª ed. – São Paulo: Moderna, 2006.
Cena
do filme “ Meu primeiro amor”, lançado em 27/11/1991 (EUA) – Direção: Howard
Zieff, Roteiro: Laurice Elehwany.
Claricelispectorcitou.tumblr.com/
Professora Zilda
Hipolito Teodoro
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